Entregadores de Aplicativos em Greve: O que Está por Trás da Reivindicação de Taxa Mínima de R$ 10!
Nos últimos dias 31 de março e 1º de abril de 2025, um movimento significativo tomou as ruas de diversas cidades brasileiras, envolvendo milhares de entregadores que paralisaram suas atividades em busca de melhorias nas condições de trabalho e na remuneração oferecida pelas plataformas de entrega, como o iFood. O movimento teve grande repercussão, principalmente em São Paulo, e teve como principais reivindicações a implementação de uma taxa mínima de R$ 10 por corrida, ajustes nas tarifas de quilometragem e a busca por uma remuneração mais justa para as atividades diárias dos trabalhadores.

A greve foi liderada por um grupo de entregadores que apontam as condições de trabalho como um fator de exploração por parte das plataformas de delivery. Em seus protestos, os entregadores exigem que a remuneração para o trabalho realizado esteja mais condizente com os custos e com o esforço diário que esses profissionais fazem para garantir que as entregas cheguem aos consumidores. As exigências são claras: a taxa mínima por corrida precisa ser de R$ 10; o valor pago por quilômetro rodado precisa ser reajustado de R$ 1,50 para R$ 2,50; a definição de um limite máximo de 3 km para as corridas realizadas com bicicletas; e o pagamento integral de pedidos agrupados, onde diversas entregas são feitas no mesmo trajeto.
O movimento, que ganhou força no final de março, teve o iFood como principal alvo, uma vez que a plataforma detém uma enorme fatia do mercado de delivery no Brasil, sendo apontada como responsável por muitas das condições precárias que os entregadores enfrentam diariamente. Junior Freitas, um dos líderes do movimento, fez um apelo aos consumidores: “Contra a exploração das empresas de aplicativo. Eu conto com todos vocês, amanhã não façam pedidos nos aplicativos. Colabore com a nossa luta. O iFood, que detém 80% do monopólio do mercado, vem explorando os trabalhadores e o nosso sangue está sendo jorrado na avenida enquanto eles faturam muito.” A fala de Freitas, marcada por forte indignação, evidenciou o mal-estar dos entregadores com a forma como as plataformas tratam seus trabalhadores, que se sentem pressionados e mal remunerados.
O iFood, por sua vez, reagiu rapidamente, enviando um comunicado para os líderes do movimento, destacando os aumentos realizados nas tarifas de pagamento aos entregadores. Segundo a plataforma, ao longo dos últimos três anos, houve aumentos progressivos nos valores pagos por quilômetro rodado e nas taxas mínimas por corrida. Em 2022, o valor pago por quilômetro rodado foi de R$ 5,31, subindo para R$ 6,50 em 2023. A empresa também afirmou que continua ouvindo os entregadores e está trabalhando continuamente para melhorar as condições de trabalho no ecossistema de delivery, mas os manifestantes argumentam que essas alterações ainda não são suficientes para resolver os problemas que afetam o cotidiano dos entregadores.
Durante a greve, os entregadores foram recebidos por uma comissão da plataforma no primeiro dia de paralisação, mas, segundo Freitas e outros representantes do movimento, nenhuma proposta concreta foi apresentada. “Não tivemos absolutamente nada das empresas de aplicativo. Não deram uma posição para nós, então a gente vai continuar lutando”, afirmou Freitas durante o segundo dia de protestos, reafirmando que a greve só seria suspensa quando um acordo viável fosse estabelecido entre os trabalhadores e as plataformas de delivery.

Em entrevista à Band, também divulgada em redes sociais, Freitas destacou que o reajuste proposto pela plataforma não é suficiente para atender às necessidades dos trabalhadores. A insatisfação é visível, principalmente porque a realidade dos entregadores envolve custos altos com manutenção das motos ou bicicletas, combustível, e ainda o risco de acidentes nas ruas, tudo isso para um retorno financeiro que, segundo eles, não condiz com o esforço e os riscos envolvidos no trabalho. Freitas e outros líderes da greve acreditam que os valores apresentados até agora pelas plataformas de delivery não são eficazes e não representam uma melhoria real para a classe trabalhadora.
A Reação das Plataformas e a Visão das Empresas
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa empresas como iFood, Uber e 99, se posicionou sobre o movimento, afirmando que respeita o direito de manifestação dos entregadores, mas que as empresas continuam abertas ao diálogo para tentar chegar a um entendimento. A entidade afirmou ainda que mantém canais de comunicação com os trabalhadores e que o objetivo é melhorar as condições do setor, levando em consideração tanto as necessidades dos profissionais quanto as questões estruturais das plataformas.
Apesar disso, os entregadores continuam insistindo que os reajustes realizados não são satisfatórios e que é necessário um novo olhar sobre a remuneração dos profissionais que estão na linha de frente do delivery. Para muitos, a situação atual é de total precarização do trabalho, onde a remuneração não reflete o trabalho árduo realizado nas ruas, nem as constantes dificuldades enfrentadas pelos entregadores, como as condições do trânsito, da segurança e os altos custos operacionais com manutenção e combustível.
O movimento se tornou um símbolo de resistência contra a exploração percebida nas relações de trabalho mediadas pelas plataformas digitais. Para muitos entregadores, a greve é uma forma de chamar atenção para o fato de que o modelo de negócios das empresas de delivery depende diretamente da mão de obra dos trabalhadores, mas não oferece uma contrapartida adequada, seja em termos de segurança, benefícios ou remuneração justa. Para além das questões econômicas, a greve também aponta para um problema mais amplo de desvalorização dos trabalhadores que compõem a base de operações de várias empresas de grande porte.
O Futuro das Negociações e a Projeção para o Setor de Delivery
Após a paralisação, os entregadores voltaram às suas atividades no dia 2 de abril, mas não descartaram novas mobilizações no futuro. De acordo com Freitas, a luta continua até que as plataformas façam propostas que atendam às exigências dos trabalhadores. Ele e outros líderes do movimento afirmam que, se necessário, recorrerão às autoridades competentes para buscar uma solução para a questão. Além disso, os entregadores continuam a convocar a sociedade a não realizar pedidos por meio dos aplicativos até que uma resolução seja alcançada, como forma de pressionar as empresas a ouvir as demandas de quem está nas ruas todos os dias para garantir a entrega de produtos.
O setor de delivery, que tem se expandido cada vez mais com o aumento da demanda por serviços rápidos e eficientes, vive agora um momento de tensão. A greve dos entregadores evidencia a fragilidade do modelo atual, onde os trabalhadores enfrentam uma jornada de trabalho exaustiva e arriscada, muitas vezes sem os devidos direitos trabalhistas garantidos. A pressão sobre as plataformas, como o iFood, Uber Eats e Rappi, está crescendo, e as discussões sobre melhores condições de trabalho, remuneração e reconhecimento dos entregadores se tornam cada vez mais centrais na sociedade brasileira.
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À medida que as negociações entre entregadores e plataformas continuam, a expectativa é de que novas mobilizações possam ocorrer, caso as partes não cheguem a um acordo satisfatório. O movimento, iniciado em março, representa apenas um capítulo de uma luta maior por melhores condições para os trabalhadores da economia digital. E embora a greve tenha terminado em 2 de abril, o impacto desse protesto ainda reverberará, pressionando as plataformas a reavaliar sua postura e, quem sabe, a repensar seus modelos de negócios em prol de uma relação mais justa com seus trabalhadores.
O Que Está em Jogo?
A greve dos entregadores é apenas um reflexo da crescente insatisfação e da necessidade de mudanças nas condições de trabalho no setor de delivery. Os entregadores buscam, acima de tudo, o reconhecimento de seu trabalho, o que implica em uma remuneração justa, condições adequadas de trabalho e mais segurança. O modelo de negócios que tem sido utilizado pelas grandes plataformas de delivery precisa ser questionado, e é possível que esse movimento ganhe proporções maiores no futuro, caso as empresas continuem a ignorar as reivindicações dos trabalhadores.

A pressão para garantir melhores condições de trabalho no setor de delivery é mais do que uma luta por salários mais altos – é uma luta por dignidade, por um sistema mais justo e equilibrado que não sobrecarregue os trabalhadores e que respeite os direitos e as necessidades de quem está nas ruas todos os dias para garantir o funcionamento do comércio digital. Se o setor de delivery continuar a crescer, é essencial que os entregadores recebam a compensação adequada por seu trabalho, e que as plataformas de delivery reconheçam o papel fundamental desses profissionais para o sucesso do modelo de negócios.
