Sumiram Todos! O Mistério dos Sedãs que Desapareceram das Ruas

Você já parou para pensar na quantidade de carros que simplesmente deixaram de existir nas ruas brasileiras? Em especial, os sedãs — aquele tipo de carro com três volumes, porta-malas generoso e uma elegância discreta que fez a cabeça de gerações inteiras. Pois é. Eles sumiram. E ninguém parece ter notado.

Outro dia, esbarrei com uma crônica escrita por uma comediante americana. O título dela era simples: “Pra onde foram todos os carros pequenos?”. A provocação fazia sentido no contexto norte-americano, onde SUVs e picapes dominaram tudo. Mas resolvi adaptar a ideia ao nosso quintal. Porque no Brasil a pergunta certa é outra: pra onde foram todos os sedãs?

Traseira do Chevrolet Vectra.
Traseira do Chevrolet Vectra. Foto: Divulgação

Um Sedã Charmoso na Porta da Escola

Era uma manhã comum, dessas em que pais se amontoam nos carros em filas para deixar os filhos na escola. Estava ali, preso no vai-e-vem do trânsito escolar, quando bati o olho em um carro que chamou minha atenção. Um sedã da Nissan. Bonito, alinhado, com proporções elegantes.

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Demorei uns segundos para identificar se era um Versa ou um Sentra. Não que os sedãs da marca tenham sido os mais desejados no passado — longe disso. Mas aquele modelo, sim, chamou minha atenção. Era um Versa. Fiquei surpreso. “Ué, desde quando o Versa ficou tão charmoso?”

E aí a pergunta voltou à minha mente, como um eco que se recusa a se calar: onde foram parar todos os sedãs?

Quando os Sedãs Reinavam Absolutos

Quem cresceu nos anos 70 e 80 lembra bem. As ruas brasileiras eram verdadeiros desfiles de sedãs. Galaxie, Dodge Dart, Opala, Chevette, Corcel, Alfa Romeo 2300. Era impossível sair de casa e não cruzar com pelo menos meia dúzia desses. Mesmo cercado de Fuscas, Variants e Kombis, meu olhar — ainda infantil — era atraído pelos sedãs.

Tinha fascínio por eles. Observava tudo: as linhas da carroceria, o formato do farol, o tamanho dos retrovisores. Sabia identificar o ano de fabricação de um carro pelo detalhe no para-choque ou pela presença (ou ausência) das famigeradas polainas — aquelas proteções plásticas em volta das rodas. (Não sabe o que é polaina? Joga no Google. É uma viagem no tempo.)

Sedã Também é Diversão

Sedãs nem sempre foram sinônimos de carro de tiozão. Muitos deles eram divertidos de verdade. O Chevette, por exemplo — com seu eixo traseiro nervoso e tração traseira — era pura emoção em dias de chuva nas ruas de paralelepípedo de São Paulo.

Os gigantes Opala e Maverick também entregavam doses generosas de prazer ao volante. Claro, tinham seus defeitos: o Opala com seu projeto de suspensão traseira digna de carroça; o Maverick com trincas nas longarinas e pivôs que viviam se entregando. Mas o som dos motores — o seis cilindros do Opala e o V8 302 do Maverick — compensava qualquer limitação técnica. Roncos que ainda hoje fazem pescoços virarem nas ruas.

O Sedã e o Jornalista

Já na vida adulta, tive a sorte (ou destino) de trabalhar na lendária Quatro Rodas, a maior revista automotiva do país. Entrei para a equipe técnica em 1991 e mergulhei de cabeça no mundo dos testes de pista e avaliações. Foi aí que meu amor pelos sedãs só aumentou.

Tive vários ao longo dos anos: Opala Diplomata 1986, LTD 1972, diversos Voyage, Corsa Sedan, Tempra, Clio Sedan, até mesmo um Marea — aquele que metia medo em qualquer mecânico. Nenhum deles me fez pensar duas vezes: eu era do time dos sedãs.

E como repórter de testes, fui um dos primeiros a dirigir muitos modelos que marcaram os anos 90. Audi 100, Peugeot 405 e 605, Alfa Romeo 164, Renault 21, Mazda 626, Mitsubishi Galant e tantos outros que hoje parecem distantes. Aquela era uma era de ouro. E os sedãs reinavam.

Chevrolet chevette na estrada.
Foto: Divulgação

O Declínio dos Três Volumes

Mas aí vieram os anos 2000, e algo começou a mudar. Os sedãs, que antes eram sinônimo de status, conforto e robustez, começaram a perder espaço. Primeiro, para os hatches médios. Depois, de forma mais brutal, para os SUVs.

Se nos anos 90 a Volkswagen tinha quatro sedãs na linha (Polo Classic, Santana, Bora e Passat), hoje só sobra o Virtus e o esportivo Jetta GLi. A Chevrolet, que ostentava modelos como Corsa Sedan, Astra Sedan, Vectra e Omega, hoje só oferece o Onix Plus. E olhe lá.

Viramos uma nação de SUVs. Até um sedã singelo como o Versa, aquele mesmo que me chamou a atenção na porta da escola, parece hoje uma espécie de raridade urbana.

Por Que os Sedãs Sumiram?

A resposta é uma combinação de fatores:

  1. Moda: SUVs viraram símbolo de status, segurança e modernidade.
  2. Praticidade: Muitas pessoas gostam da posição de dirigir mais alta e da suspensão mais robusta.
  3. Marketing das montadoras: É mais lucrativo vender SUVs. Então, elas forçam essa preferência.
  4. Ausência de renovação: Enquanto os SUVs ganham novas gerações a cada dois anos, os sedãs envelhecem no portfólio.

E assim, os sedãs foram sendo empurrados para o canto, até quase sumirem de vez.

O Que Perdemos Com Isso?

Muito mais do que só modelos de carro. Perdemos uma forma de dirigir, uma conexão com a estrada e uma identidade automotiva nacional. Sedãs eram mais estáveis, silenciosos e confortáveis em longas viagens. Tinham porta-malas generosos, perfeitos para famílias que viajavam com bagagens, bicicletas e caixas de isopor.

Perdemos também acesso. Hoje, um jovem de 20 e poucos anos tem pouquíssimas opções de sedãs acessíveis. O que sobra no mercado são modelos premium ou modelos sem alma.

O Hatch Médio Também Sumiu

E não foram só os sedãs. Hatches médios — outro segmento querido do brasileiro — também foram varridos do mapa. Já tivemos uma oferta absurda: Audi A3, Astra, Escort, Golf, Brava, New Beetle, Classe A, Xsara, 306, Ibiza. Hoje? Praticamente só sobrou o BMW Série 1. Isso se você tiver dinheiro para pagar.

A sensação é que a indústria nos colocou em um funil: ou você compra um SUV ou você está fora do jogo. Pouco espaço para quem quer algo diferente.

Mas Ainda Dá Tempo

Se você é daqueles que:

  • Gosta de conforto e estabilidade em viagens
  • Não precisa de altura de SUV para o seu trajeto urbano
  • Quer espaço de porta-malas sem abrir mão do estilo
  • Valoriza carros que “conversam” com o motorista

…então talvez um sedã seja, sim, a melhor escolha. Tem muita coisa boa ainda no mercado. E quanto mais gente comprar, mais chances temos de que as marcas continuem apostando neles.

Um Convite Para Voltar às Origens

Aqui vai minha sugestão final: se tiver dúvidas entre um sedã e um SUV, pegue uma estrada sinuosa, com curvas e subidas. Vá com um sedã bem acertado, sente-se baixo, sinta o carro na mão. Você vai entender por que tanta gente ainda é apaixonada por esse tipo de carro.

E se alguém disser que sedã é coisa de velho, responda: velho é quem não sabe se divertir na direção.

Um Último Lamento

Confesso: esse texto não é só uma análise fria de mercado. É também uma crônica apaixonada. Uma tentativa de manter viva a memória e o charme dos sedãs. Porque às vezes, o que desaparece das ruas vai junto das nossas lembranças. E não dá pra aceitar isso sem ao menos registrar.

Lateral frontal VW Jetta 2023 carros com j
Lateral frontal VW Jetta 2023. Foto: reprodução.

E você?
Já teve um sedã que deixou saudade? Ainda pensa em comprar outro? Ou se rendeu aos SUVs de vez?

Deixe nos comentários — ou, quem sabe, compartilhe com aquele amigo que precisa ser convertido.

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Um jovem que está iniciando sua vida no mundo automobilístico, carregando uma enorme paixão sobre o assunto. Se formou no Ensino Médio e pretende se ingressar em uma faculdade. Um jovem que nos tempos vagos, se interessa em fazer atividades familiares e passar mais tempo com a família.
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