Jeep Compass vira “traidor”? Novo modelo deixa de lado recurso essencial e gera polêmica global
A nova geração do Jeep Compass foi apresentada na Europa e, ao invés de empolgar os fãs da marca, provocou reações mistas — e uma certa dose de frustração entre os mais puristas. A grande questão que se levantou é: como um Jeep pode abrir mão da tração nas quatro rodas e ainda se chamar Jeep?
Sim, parece difícil de acreditar, mas é verdade: a versão a combustão do novo Compass será vendida apenas com tração dianteira. Essa revelação pegou muitos de surpresa, especialmente porque esse tipo de configuração vai na contramão daquilo que tradicionalmente se espera de um Jeep, marca sinônimo de robustez e capacidade off-road.

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Uma mudança que revela muito mais
A decisão não é isolada. Ela faz parte de um movimento maior da Stellantis, grupo automotivo que comanda a Jeep, além de marcas como Peugeot, Citroën, Fiat e outras. O novo Compass será baseado na plataforma STLA Medium, uma base moderna e modular desenvolvida para acomodar principalmente motores elétricos. E é justamente aí que mora a limitação: essa plataforma não suporta motores a combustão com tração integral.
Em outras palavras, mesmo que a Jeep quisesse colocar um sistema 4×4 no Compass a combustão, não seria possível com a base escolhida. A única maneira de oferecer essa opção será nos modelos 100% elétricos, e ainda assim, apenas na configuração topo de linha, que contará com dois motores elétricos — um em cada eixo, garantindo tração integral.
As demais versões elétricas virão com tração dianteira, potências entre 210 e 230 cv, e foco total no uso urbano. Já o Compass elétrico com AWD de verdade será uma espécie de “edição especial” com cerca de 375 cv e torque digno de desafiar trilhas mais pesadas.
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Fim da tradição off-road?
Para os entusiastas da marca, a decisão parece quase uma heresia. Desde sua origem, a Jeep sempre cultivou a imagem de veículos prontos para encarar qualquer terreno, com sistemas de tração integral sofisticados, capazes de desbravar do asfalto aos lamaçais.
A ausência do 4×4 nas versões a combustão do novo Compass coloca essa tradição em xeque, ao menos na percepção popular. Afinal, é difícil associar um SUV com tração dianteira àquela imagem icônica do Jeep subindo pedras ou cruzando rios.
Mas vale a ressalva: não é a primeira vez que a Jeep faz isso. Modelos como o Renegade, Cherokee e até o Grand Cherokee já foram vendidos em versões com tração apenas dianteira. A diferença agora é que a ausência do 4×4 não será mais uma opção, mas uma imposição — a menos que o consumidor migre diretamente para um carro elétrico.

E os Estados Unidos nisso tudo?
A maior polêmica em torno do novo Compass talvez não seja nem o fim do 4×4 a combustão, mas sim a possibilidade de que o modelo nem sequer seja vendido nos Estados Unidos, lar original da Jeep e seu maior mercado consumidor.
Isso porque, nos EUA, tração integral é quase obrigatória para um carro ser considerado um “verdadeiro Jeep”. Lá, modelos com tração apenas dianteira são vistos mais como compromissos com o preço do que com o desempenho. E a ausência do 4×4 nos novos Compass a combustão pode ser o sinal definitivo de que o SUV não cruzará o Atlântico.
A Jeep chegou a anunciar planos de produzir o novo Compass em Brampton, no Canadá, a partir de 2026. No entanto, as obras de adaptação da fábrica foram suspensas, e especialistas já falam em um atraso de até um ano. Diante disso, rumores indicam que a Stellantis pode optar por manter o Compass atual por mais tempo no mercado americano.
Vale lembrar que o modelo ainda é extremamente popular por lá: foram mais de 112 mil unidades vendidas nos EUA apenas em 2023. Um sucesso que a empresa certamente não deseja arriscar com um modelo que poderia dividir opiniões, especialmente entre os fãs mais conservadores.
Estratégia elétrica sob revisão?
Outro fator que levanta dúvidas é o desempenho abaixo do esperado do Wagoneer S, SUV elétrico que deveria ser um carro-chefe da nova estratégia eletrificada da Jeep. A recepção morna ao modelo fez com que a empresa repensasse seus planos mais agressivos de eletrificação, especialmente em um mercado tão sensível quanto o norte-americano.
O Compass elétrico com tração integral — que, na prática, será o único “verdadeiro Jeep” da nova geração — ainda é uma promessa distante. E mais: ao depender exclusivamente da tração dianteira nas versões a combustão, a marca pode encontrar dificuldades em mercados que valorizam mais a performance off-road.
E o Brasil?
Já no Brasil, a conversa é outra. Por aqui, a tração integral nunca foi um item tão decisivo para o consumidor de SUVs compactos. O Compass já teve, e ainda tem, versões 4×2 que vendem bem. Afinal, grande parte dos donos de SUV utiliza o carro essencialmente em ambiente urbano ou rodoviário, e o apelo visual robusto muitas vezes pesa mais que a real capacidade off-road.
Portanto, para o mercado brasileiro, a ausência da tração integral no Compass a combustão não deve impactar tanto as vendas. O que talvez gere estranhamento, num primeiro momento, é o fato de que agora a tração integral se tornará um recurso exclusivo do modelo elétrico — que, por sua vez, será mais caro.
A grande questão: quem o Compass quer agradar?
O novo Compass revela uma mudança profunda de foco: menos voltado à tradição off-road e mais orientado à eficiência, eletrificação e uso urbano. Com isso, a Jeep passa a mirar um público diferente, interessado em tecnologia, conectividade e menor impacto ambiental — mas que talvez não precise subir morros ou cruzar riachos em seu dia a dia.

No entanto, o desafio é claro: como vender essa nova proposta sem perder os clientes fiéis que ajudaram a construir a reputação da marca? É uma tarefa delicada. E cada decisão, como a de eliminar a tração nas quatro rodas em certas versões, carrega um peso simbólico que vai além da engenharia.