Hyundai abandona fábrica da Caoa? Fim do Tucson no Brasil levanta alerta

A parceria entre a Hyundai e a Caoa, uma das mais emblemáticas da indústria automobilística brasileira, está à beira de um possível rompimento. Apenas alguns meses após o anúncio de um acordo que parecia promissor, a realidade atual é outra: a produção dos modelos Hyundai HR e Tucson foi oficialmente encerrada na fábrica de Anápolis (GO), que agora concentra suas atividades exclusivamente nos veículos da Caoa Chery.

A informação foi confirmada por fontes próximas às operações, que também revelam que não há planos concretos para novos modelos da Hyundai serem fabricados por lá nos próximos meses.

Parceria Relâmpago: De Promissora a Estagnada em Menos de Um Ano

No início de 2024, Hyundai e Caoa colocaram fim a uma longa disputa pelo controle da operação da marca no Brasil. Como resultado, a empresa brasileira passou a distribuir todos os veículos Hyundai, inclusive os modelos HB20 e Creta, até então vendidos em uma rede separada. Em contrapartida, a montadora sul-coreana teria a liberdade de usar a fábrica de Anápolis para produzir qualquer modelo de seu portfólio, mediante pagamento pela manufatura.

Esse acordo parecia promissor. A Hyundai, inclusive, passou a importar novos modelos — como o Ioniq 5, o SUV Palisade e o compacto Kona — e reforçou sua presença nas lojas da Caoa em todo o país. No entanto, o plano de ampliar a produção nacional nunca saiu do papel. Desde então, nenhum novo veículo da Hyundai foi produzido em Anápolis. A única exceção foi a retomada pontual da montagem do Tucson no fim de 2024, em um lote limitado que marcou a despedida do modelo.

O Fim da Linha para Tucson e HR no Brasil

Em abril de 2025, a fábrica de Anápolis entrou em férias coletivas. Ao retornar, em maio, retomou a produção apenas de veículos da Caoa Chery. O HR e o Tucson, últimos remanescentes da linha Hyundai no local, não voltaram a ser montados. Coincidentemente (ou não), essa paralisação ocorreu próximo à entrada em vigor das novas normas do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores). Apesar disso, não há confirmação de que os modelos não atendam às exigências ambientais do novo padrão PL8.

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Nos canais oficiais da Hyundai, os dois veículos ainda aparecem como disponíveis para venda na linha 2024/2025. Isso sugere que o estoque remanescente está sendo comercializado, mesmo que não haja produção ativa em 2025. O Tucson é ofertado em versão única, Limited, com motor 1.6 turbo a gasolina de 177 cv e câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas. Seu preço é de R$ 199.490. Já o HR, voltado ao segmento de utilitários leves, vem na configuração GL com motor 2.5 turbodiesel de 130 cv, tração traseira e câmbio manual de seis marchas, por R$ 188.990.

Desempenho Comercial: Últimos Suspiros nas Lojas e no Emplacamento

Embora ainda estejam disponíveis em algumas concessionárias, tanto o Tucson quanto o HR apresentam queda nas vendas. Os números de emplacamentos em 2025 mostram desempenho modesto, mas ainda presente. O SUV teve entre 130 e 200 unidades vendidas por mês até maio, mas em junho o número caiu para apenas 69 exemplares. O HR, por sua vez, manteve entre 200 e 380 unidades por mês, com 159 veículos emplacados na primeira metade de junho.

Essa persistência nas vendas indica que há demanda residual pelos modelos, ainda que limitada. Mas o fim da produção local, aliado à ausência de novos lançamentos, levanta preocupações sobre a continuidade dessas opções no mercado brasileiro.

O Silêncio das Marcas: O Que Dizem Hyundai e Caoa

Procuradas pela imprensa para esclarecer a situação, tanto a Hyundai quanto a Caoa optaram por não confirmar nem negar o fim do acordo de produção em Anápolis. Em nota, a montadora coreana declarou que, por razões de governança corporativa e confidencialidade, não comenta estratégias comerciais ou operacionais. Já a Caoa citou uma política de sigilo judicial para evitar revelar quaisquer planos de negócios ou negociações em andamento.

Essa ausência de posicionamento oficial apenas reforça o clima de incerteza em torno da parceria. Enquanto isso, fontes do setor automobilístico apontam que há conversas iniciais sobre a possibilidade de produzir a nova geração do Tucson em Anápolis a partir de 2026, mas nada está confirmado — e tampouco se sabe se essas tratativas realmente irão adiante.

Cenário Atual: Caoa Assume o Comando da Rede Hyundai

Mesmo com o enfraquecimento da cooperação industrial, a Caoa continua como distribuidora oficial da Hyundai no Brasil, responsabilidade que passou a exercer após o novo acordo no início do ano. Isso inclui a comercialização dos modelos HB20 e Creta, fabricados em Piracicaba (SP), bem como dos veículos importados.

Com isso, a estrutura de vendas e pós-venda da Hyundai segue sob responsabilidade da empresa brasileira, o que deve assegurar certa estabilidade para os consumidores, pelo menos no curto prazo. Entretanto, sem novos produtos fabricados em território nacional fora da unidade paulista, a Hyundai pode perder competitividade frente a outras marcas que vêm investindo pesado na nacionalização de seus catálogos.

HR x Kia Bongo: Irmãos de Grupo, Rumos Diferentes

Outro ponto curioso no cenário atual é o contraste entre o Hyundai HR e o Kia Bongo. Ambos fazem parte do mesmo conglomerado sul-coreano e compartilham muitas semelhanças técnicas. O Bongo, porém, é importado do Uruguai e já recebeu atualizações para se adequar às normas de emissões de 2026. Entre as melhorias, estão a adoção do tanque de Arla e tração 4×4.

Enquanto isso, o HR segue com tração 4×2 e sem as atualizações tecnológicas vistas no modelo da Kia. Essa diferença pode indicar uma aposta da montadora sul-coreana em concentrar seus esforços no Bongo como principal representante da categoria no Brasil, com foco em importações em vez de produção local.

O Que Esperar do Futuro da Hyundai no Brasil?

A atual movimentação da Hyundai indica um possível reposicionamento estratégico no mercado brasileiro. Ao manter a produção de HB20 e Creta em Piracicaba e ampliar a importação de modelos como o Ioniq 5 e o Kona, a marca pode estar apostando em um portfólio mais seletivo, com foco em eletrificação, SUVs e veículos de alto valor agregado. Isso não elimina a possibilidade de novos produtos nacionais no futuro — especialmente se as negociações para a produção do novo Tucson avançarem.

Contudo, por ora, os planos ambiciosos anunciados no início do ano parecem ter esfriado. A suspensão da produção em Anápolis e o silêncio das marcas revelam um cenário menos entusiasmado do que o inicialmente projetado.