Multa a 150 km/h? A verdade por trás da história que viralizou!
Nos últimos dias, várias publicações nas redes sociais e até alguns sites de notícias têm espalhado uma suposta brecha na lei de trânsito que permitiria a motoristas circularem a 150 km/h sem receberem multa. A afirmação, que já foi compartilhada milhares de vezes, causou polêmica, confusão e, infelizmente, pode incentivar comportamentos perigosos.
Mas afinal, isso é verdade? A resposta curta é: não exatamente. E a resposta completa envolve contexto, interpretação correta da lei e bom senso — algo que tem faltado em muitas dessas manchetes.

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De onde veio a confusão: o artigo 267 do CTB
A raiz da polêmica está no artigo 267 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Ele prevê que, em casos de infrações leves ou médias, o condutor pode receber apenas uma advertência por escrito, sem precisar pagar multa, desde que não tenha cometido nenhuma outra infração nos últimos 12 meses. Trata-se de uma medida educativa válida e legal, pensada para motoristas com bom histórico.
No entanto, muitas publicações têm usado esse trecho para sugerir que qualquer infração — até mesmo dirigir a 150 km/h — poderia ser perdoada se o condutor estiver com a “ficha limpa”. Isso é falso. A conversão da multa em advertência só se aplica a infrações leves e médias. Dirigir a 150 km/h, na maioria das vias brasileiras, configura uma infração grave ou gravíssima — e, portanto, fora do alcance dessa exceção.
A margem de erro dos radares existe, mas é limitada
Outro argumento muito compartilhado nas redes é o da margem de tolerância dos radares, que realmente existe e é regulamentada pela Resolução 798 do Contran. Essa regra estabelece limites de erro que devem ser considerados ao registrar a velocidade de um veículo.
Funciona assim:
- Em vias com limite de até 100 km/h, a tolerância é de 7 km/h.
- Em vias acima de 100 km/h, a tolerância é de 7% da velocidade.
Ou seja, se a via tem limite de 110 km/h, o radar só gera multa se a velocidade medida for superior a 117,7 km/h. Em uma via de 120 km/h, que são raras no Brasil, o limite com tolerância passa a 128,4 km/h.
Com isso, algumas pessoas concluíram que seria possível passar a 150 km/h sem multa. Mas esse cenário só seria possível se três condições estivessem perfeitamente alinhadas:
- A via precisa ter limite de 120 km/h, algo incomum no país.
- A velocidade real (com a margem aplicada) teria que não ultrapassar o limite com tolerância.
- O condutor não pode ter nenhuma infração registrada no último ano.
Na prática, isso é altamente improvável.

Quando 150 km/h vira multa — e das pesadas
Na grande maioria das rodovias brasileiras, o limite de velocidade está entre 100 km/h e 110 km/h. Em trechos urbanos, é comum encontrar limites de 50 a 80 km/h. Se um motorista passar a 150 km/h em uma via com limite de 100 km/h, mesmo com os 7 km/h de tolerância, ele será registrado a 143 km/h, o que já configura infração gravíssima.
Além da multa, que pode ultrapassar R$ 880 em alguns casos, o condutor ainda corre o risco de ter a carteira suspensa e acumular pontos no prontuário. E mais importante do que isso: ele coloca em risco a própria vida, dos passageiros e de outras pessoas na via.
A falsa sensação de segurança e o perigo real
Um dos grandes perigos desse tipo de desinformação é que ela dá ao motorista uma falsa sensação de segurança. Ao acreditar que pode escapar da multa, ele se sente autorizado a acelerar além do permitido — e esse comportamento pode ter consequências trágicas.
O excesso de velocidade é um dos principais causadores de acidentes com morte no Brasil. Em altas velocidades, o tempo de reação diminui, a frenagem exige mais distância e qualquer erro, por menor que seja, pode ser fatal. Mesmo que tecnicamente existisse uma brecha na lei, será que valeria a pena arriscar tanto por tão pouco?
Além disso, esse tipo de fake news enfraquece os esforços de educação no trânsito e descredibiliza as instituições que trabalham para reduzir os índices de acidentes. A Senatran já se posicionou desmentindo essa história e reforçando que a legislação deve ser interpretada com responsabilidade. Ela também recomenda que motoristas busquem informações diretamente em seus canais oficiais.
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Evite atalhos: informação correta salva vidas
É compreensível que muitos motoristas fiquem irritados com multas ou queiram entender melhor seus direitos. Mas é importante não confundir informação correta com atalhos para burlar o sistema. O trânsito brasileiro é complexo, e a legislação foi criada com o objetivo de proteger a vida — não de ser manipulada.
Se você quiser entender melhor sobre multas, limites de velocidade, tolerâncias de radares ou outros temas do tipo, busque fontes confiáveis. O próprio site da Senatran, os Detrans estaduais ou portais especializados em mobilidade urbana são bons pontos de partida.
Evite confiar cegamente em postagens de redes sociais, vídeos curtos sem fonte, ou influenciadores que não têm formação técnica. Muitas vezes, a intenção é gerar clique, não informar de verdade.

No trânsito, a pressa pode custar caro
No fim das contas, a lição mais importante que fica é: não vale a pena acelerar além do limite. Mesmo que fosse possível escapar de uma multa a 150 km/h, o risco à vida é enorme. Os limites de velocidade não estão ali por acaso. Eles são calculados com base em segurança viária, condições da via, visibilidade, tráfego e diversos outros fatores.
Portanto, respeite os limites. Dirigir com responsabilidade é a melhor forma de evitar acidentes — e também de não receber multas. Desacelerar pode ser o gesto mais simples e eficaz para proteger o bem mais valioso que você tem: a vida.