Não é SUV? Novo veredito do Inmetro sobre o VW Tera choca o mercado
A chegada do Volkswagen Tera ao mercado brasileiro foi cercada de expectativas. Afinal, o modelo estreou com a missão de ser o novo SUV compacto da montadora, ocupando o espaço entre o Polo e o Nivus e prometendo entregar robustez, espaço interno e conectividade.
Mas, apesar da apresentação e do discurso comercial da Volkswagen, uma mudança recente de classificação oficial feita pelo Inmetro está provocando um intenso debate: o Tera, ou ao menos uma de suas versões, não é oficialmente considerado um SUV.

Guia do Conteúdo
SUV ou hatch? O que define a categoria segundo o Inmetro
Antes de entender por que o Tera MPI foi reclassificado, é preciso compreender os critérios técnicos adotados pelo Inmetro para categorizar um veículo como SUV. Diferente da simples percepção visual ou da estratégia de marketing adotada pelas montadoras, a definição oficial de um utilitário esportivo segue regras rígidas de geometria e estrutura.
Esses critérios são:
- Altura livre do solo entre os eixos: mínimo de 200 mm, com tolerância de até 20 mm para baixo.
- Altura livre sob os eixos dianteiro e traseiro: no mínimo 180 mm.
- Ângulo de ataque: pelo menos 23 graus (com tolerância de -1 grau).
- Ângulo de saída: pelo menos 20 graus.
- Ângulo de transposição de rampa: mínimo de 10 graus.
Além desses números, o Inmetro exige que o veículo tenha carroceria fechada e seja projetado para transporte de passageiros, o que é o caso do Tera. Porém, na versão MPI, o modelo não atinge o vão livre mínimo necessário sob os eixos para ser enquadrado como SUV.
A versão MPI do Tera: mais acessível, mas fora dos padrões
A polêmica começou quando analistas identificaram que a versão Tera MPI, a mais básica e acessível da linha, utiliza rodas de 15 polegadas — herdadas do Polo Track — e suspensão menos elevada. Esse conjunto resulta em uma altura livre do solo de aproximadamente 160 mm, bem abaixo dos 180 mm exigidos sob os eixos e também distante dos 200 mm exigidos entre os eixos.
Com isso, essa versão específica não cumpre os requisitos mínimos para ser oficialmente considerada um SUV, mesmo que sua estética e posicionamento no mercado estejam alinhados com o segmento.
Já as versões TSI Comfortline e Highline, que têm suspensão mais elevada e rodas maiores (16 ou 17 polegadas), atingem os parâmetros definidos pelo Inmetro e são classificadas como SUVs nas tabelas técnicas.
O impacto da decisão na imagem do modelo
Essa nova classificação não interfere no desempenho ou nos atributos do veículo em si. O VW Tera MPI continua sendo um carro com visual robusto, boa dirigibilidade e espaço interno semelhante ao de muitos SUVs compactos. No entanto, a mudança traz um impacto direto na comunicação da marca, que desde o lançamento tem promovido o Tera como um SUV acessível.
Para o consumidor que compra acreditando estar adquirindo um utilitário esportivo, essa diferenciação técnica pode gerar dúvidas, especialmente quando comparada com outros modelos que também flertam com essa “zona cinzenta” da categorização, como o Renault Kwid e o Citroën C3, que já foram classificados como SUVs pelo Inmetro em determinados contextos.

A estratégia da Volkswagen: preço competitivo em primeiro lugar
A escolha da Volkswagen em manter a suspensão mais baixa e o conjunto de rodas mais simples na versão MPI não foi acidental. Trata-se de uma estratégia comercial clara, com o objetivo de entregar um carro visualmente similar a um SUV, mas com custo de produção mais baixo e, portanto, um preço de entrada mais competitivo.
Com isso, o VW Tera MPI aparece nas concessionárias como uma opção de “SUV de entrada”, atraindo consumidores que não querem (ou não podem) pagar mais de R$ 120 mil por um modelo da categoria. O problema é que, oficialmente, ele não é um SUV, o que pode mudar a percepção de valor para parte dos compradores mais atentos às classificações técnicas.
O VW Tera dentro da família Volkswagen
Desde o seu lançamento, o Tera foi posicionado como um produto estratégico na gama de veículos da marca. Ele surge como uma resposta da Volkswagen à crescente demanda por SUVs compactos com visual moderno, desempenho equilibrado e preço acessível. A linha inclui as versões:
- MPI (entrada) — com motor 1.0 aspirado, câmbio manual e foco no custo-benefício.
- TSI Comfortline — com motor 1.0 turbo e câmbio automático.
- TSI Highline — topo de linha com mais equipamentos e também com motor turbo.
As versões mais equipadas seguem dentro da classificação oficial de SUVs, conforme os parâmetros do Inmetro, enquanto apenas a versão MPI está fora dessa categoria.
Outros modelos também enfrentaram classificações polêmicas
A situação do Tera não é isolada. Diversos veículos que o público e as montadoras classificam como SUVs já enfrentaram divergências nas tabelas do Inmetro. Entre os exemplos estão:
- Volkswagen Nivus – Algumas versões chegaram a ser listadas fora da categoria SUV.
- Honda HR-V
- Toyota Corolla Cross
- Chevrolet Equinox
- Ford Territory
Até modelos considerados hatches compactos, como o Renault Kwid e o Citroën C3, já figuraram como SUVs em algumas versões, o que mostra que a classificação técnica nem sempre segue a percepção comum de mercado.
Essa oscilação reforça o quanto a categorização oficial pode divergir da estratégia de marketing das montadoras, gerando confusão entre os consumidores e até discussões em órgãos de defesa do consumidor.
Vale a pena vender o seu veículo no Feirão de carros usados?
Classificação técnica x percepção do consumidor
Para muitos compradores, o que define um SUV não são apenas ângulos de ataque ou altura do solo, mas também a sensação de robustez, posição elevada de dirigir, e design mais agressivo. E, nesse sentido, o Tera MPI entrega o que promete: visual elevado, cabine espaçosa, elementos visuais típicos de utilitários e um preço abaixo de outros SUVs da mesma faixa.
No entanto, do ponto de vista técnico, não entregar os requisitos mínimos de vão livre pode significar perda de algumas características importantes, como capacidade de transpor buracos, lombadas ou trechos de estrada de terra com mais facilidade. Isso pode ser relevante especialmente em regiões com infraestrutura mais precária.

O que isso muda na prática?
Na prática, a reclassificação do Tera MPI pelo Inmetro pode influenciar algumas decisões de consumidores mais criteriosos, que buscam um SUV completo e não querem abrir mão de atributos técnicos da categoria. No entanto, para a grande maioria do público, especialmente os que priorizam estética, conforto e economia, a mudança pouco afeta o apelo do carro.
Vale lembrar que o MPI continua sendo uma excelente porta de entrada no universo de utilitários da Volkswagen, mesmo que oficialmente classificado como um hatch de proporções avantajadas.
