Você está sendo espionado dentro do seu carro elétrico chinês?
Nos últimos anos, os carros elétricos de origem chinesa ganharam espaço nos mercados globais com uma combinação poderosa de preço competitivo, bom desempenho e alta tecnologia embarcada. Modelos como o BYD Dolphin, o Dolphin Mini e o GWM Ora 03 rapidamente chamaram atenção de consumidores brasileiros, encantados com a proposta de veículos modernos e acessíveis, que muitas vezes oferecem mais equipamentos que concorrentes de marcas tradicionais.
Mas em meio a esse crescimento acelerado, uma dúvida começa a circular em países como Estados Unidos e Reino Unido: será que esses veículos estão colhendo informações dos usuários e enviando os dados de volta para a China? E mais — estariam esses dados sendo usados por interesses além do comercial?

Essa preocupação, embora ainda sem provas concretas, já motivou ações políticas e militares em nações ocidentais. A seguir, você vai entender o que está em jogo nessa discussão, o que já foi alegado, como os especialistas veem a situação, e o que isso pode significar para os consumidores no Brasil.
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O que está por trás da suspeita?
A polêmica ganhou força após uma reportagem do site especializado Carscoops, que entrevistou especialistas em cibersegurança e levantou alertas sobre o potencial de coleta indevida de dados por carros elétricos fabricados na China. A preocupação gira em torno da capacidade desses veículos, que são verdadeiros computadores sobre rodas, de registrar informações sensíveis como:
- Localização em tempo real
- Conversas captadas por microfones internos
- Dados de navegação e rotas recorrentes
- Comportamento e hábitos de condução
Essas informações poderiam, em teoria, ser enviadas para servidores na China, controlados pelas próprias montadoras ou até mesmo pelo governo chinês, segundo os especialistas ouvidos.
O medo maior é de que essa coleta de dados vá além do marketing ou da melhoria de software — e possa ser usada com fins geopolíticos ou de vigilância.
Temor crescente em países desenvolvidos
Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo do presidente Joe Biden reagiu às preocupações de segurança nacional aumentando as tarifas de importação sobre veículos elétricos chineses, dificultando ainda mais a entrada desses modelos no país. A justificativa oficial é clara: proteger os dados dos cidadãos e reduzir os riscos de espionagem digital por meio de tecnologia embarcada em automóveis.
Já no Reino Unido, o alerta foi mais direto. Militares e agentes de inteligência foram orientados a não tratar de assuntos confidenciais dentro de veículos eletrificados, principalmente aqueles com peças ou sistemas de origem chinesa. O aviso se estende a modelos com sistemas de navegação conectados à internet ou que dependam de servidores externos para atualizações.
Essa mudança de postura não surge por acaso. Em um mundo onde a guerra digital e a vigilância cibernética ganham cada vez mais protagonismo, a mobilidade conectada virou um novo campo de atenção estratégica.

O que a China e as montadoras dizem?
Do outro lado da discussão, o governo chinês negou veementemente todas as acusações, chamando as suspeitas de infundadas e sem base em provas concretas. Segundo o Ministério das Relações Exteriores da China, as empresas chinesas que operam no exterior são obrigadas a seguir as leis locais dos países onde atuam — e isso inclui a proteção de dados dos consumidores.
A posição oficial é que as críticas partem de um movimento protecionista disfarçado de preocupação com segurança, com o objetivo de conter o avanço da indústria automotiva chinesa, que hoje lidera globalmente em volume de vendas de veículos elétricos.
Alguns analistas, inclusive, concordam com essa leitura. Para eles, o sucesso comercial da China no setor automotivo está provocando reações defensivas de concorrentes, especialmente diante da dependência ocidental em relação à tecnologia chinesa em baterias e componentes eletrônicos.
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Há riscos reais no Brasil?
Até o momento, não há nenhuma evidência ou indício concreto de que os veículos elétricos chineses vendidos no Brasil estejam espionando usuários ou transferindo dados indevidamente. As montadoras como BYD e GWM vêm consolidando operações no país com boa receptividade, e os modelos estão sendo bem avaliados em termos de tecnologia, custo-benefício e autonomia.
O mercado brasileiro, inclusive, tem demonstrado forte interesse por esses veículos. Em apenas um ano, entre 2023 e 2024, o número de carros eletrificados de origem chinesa cresceu 717% por aqui. Isso mostra que, ao menos por enquanto, o consumidor local está mais atento ao preço e ao pacote tecnológico do que aos potenciais riscos de segurança cibernética.
Mas isso não quer dizer que o tema deva ser ignorado. Com a crescente digitalização dos automóveis e a presença constante da conectividade nos veículos modernos, será cada vez mais necessário ter regulamentações claras e fiscalização ativa para garantir que os dados dos motoristas estejam realmente protegidos.
Tecnologia conectada exige vigilância
A verdade é que qualquer veículo moderno, seja ele chinês, americano, europeu ou brasileiro, já coleta uma quantidade considerável de dados. Desde informações de uso, passando por comandos de voz, preferências de trajeto até rotas percorridas — tudo pode ser armazenado, cruzado e analisado por sistemas internos.
A grande diferença está em quem controla essas informações, para onde elas vão e como são utilizadas. No caso de fabricantes com sede em países com políticas mais autoritárias ou com leis permissivas em relação à vigilância estatal, o risco potencial é naturalmente maior.
É por isso que países como Estados Unidos e Reino Unido estão pressionando por transparência, limites legais e mecanismos de fiscalização nas montadoras, especialmente nas que operam sob jurisdições mais opacas.

Comprar ou não comprar: o que considerar?
Se você está de olho em um carro elétrico chinês, vale a pena avaliar bem o custo-benefício e entender os recursos de conectividade do modelo. É importante verificar:
- Quais dados são coletados pelo sistema do carro
- Como é feito o armazenamento e envio dessas informações
- Se há opções de limitar a coleta ou uso de dados
- Qual a política de privacidade da montadora
Enquanto não há provas nem escândalos confirmados, a decisão de compra ainda pode ser segura, desde que o consumidor esteja consciente do que está adquirindo e do tipo de tecnologia envolvida.
