A Última Gota: Por Que o Fim dos Motores a Combustão Ainda Está Longe de Ser Realidade!
O debate sobre a transição para veículos elétricos e o fim dos motores a combustão tem ganhado destaque nos últimos anos. Mas, ao contrário do que muitos esperam, o cenário para o desaparecimento completo dos motores movidos a gasolina e diesel não é tão simples quanto parece. Em um momento em que muitos países e empresas defendem um futuro mais sustentável, o petróleo e os motores a combustão ainda exercem grande influência sobre a economia global. A visão de que estamos prestes a abandonar os combustíveis fósseis e adotar uma era de eletrificação total pode estar sendo exagerada.
Guia do Conteúdo
O Apoio de Trump ao Combustível Fóssil
Em 2024, em um discurso inflamado na convenção do Partido Republicano, o ex-presidente dos Estados Unidos e agora candidato à presidência novamente, Donald Trump, trouxe à tona um dos slogans mais polêmicos de sua campanha anterior: “Drill baby, drill.” Com essa frase, Trump reafirmou sua postura favorável à continuidade da extração de petróleo nos Estados Unidos, mesmo com os alertas sobre as mudanças climáticas e os riscos ambientais causados pela queima de combustíveis fósseis. Para Trump, a grandeza da América está diretamente ligada à sua posição como líder na produção e consumo de petróleo, o que implica que o uso de combustíveis fósseis deve seguir sendo um pilar fundamental da economia americana.

Combustível Fóssil: A Realidade Imutável
Apesar dos múltiplos alertas de cientistas sobre os impactos devastadores da queima de combustíveis fósseis – que são uma das principais causas do aquecimento global –, o discurso de Trump expõe uma dura realidade. Enquanto o petróleo continuar sendo uma das commodities mais lucrativas do mundo, a tendência será que o mundo continue extraindo e queimando até a última gota de combustível fóssil disponível, seja para alimentar motores a combustão ou para gerar energia, até mesmo para os carros elétricos.
Enquanto a comunidade global pressiona por uma transição energética, muitas empresas, inclusive as que estavam apostando na eletrificação total, estão revisando seus planos e voltando a investir no desenvolvimento de motores a gasolina para veículos leves. Isso ocorre porque, apesar do avanço da eletrificação, a combustão continua sendo um modelo eficiente e de custo relativamente baixo para a indústria automotiva.
A Perpetuação dos Motores a Combustão: Estratégias das Montadoras
Embora várias montadoras tenham anunciado planos para parar de produzir carros movidos a combustão na próxima década, algumas continuam a ver o motor a gasolina como uma boa aposta no futuro. A Toyota, por exemplo, tem investido no desenvolvimento de uma nova geração de motores pequenos e altamente eficientes a gasolina. Com a convicção de que, pelo menos metade dos carros vendidos no mundo continuará a ser movida por motores a combustão – seja em veículos puramente movidos a gasolina ou híbridos –, a montadora não descarta a possibilidade de fornecer seus motores a outras empresas.
Da mesma forma, a Stellantis – conglomerado que inclui marcas como Fiat, Jeep e Peugeot – está investindo em motores a combustão de longo prazo, com a possibilidade de utilizar combustíveis sintéticos, especialmente na Europa. Essa estratégia demonstra que, apesar das pressões para a eletrificação, os motores a combustão ainda têm um papel relevante no mercado global de veículos.
A Horse: A Nova Potência no Setor de Motores a Combustão
Além disso, algumas empresas têm se consolidado para garantir a continuidade do motor a combustão, mesmo em um futuro onde a eletrificação é uma tendência crescente. O Grupo Renault, junto com a chinesa Geely, fundou a Horse, uma empresa independente focada no desenvolvimento de motores a combustão e sistemas híbridos. A Horse começou com um faturamento de €7,4 bilhões e já emprega cerca de 19 mil pessoas em 17 fábricas ao redor do mundo, incluindo uma unidade no Brasil. Com uma capacidade de produção de 3,2 milhões de motores por ano, a empresa visa aumentar esse número para 5 milhões e atender a uma parte considerável da demanda global por motores a combustão.
O interesse por essa empresa também vem de outras montadoras, como Nissan e Honda, que estão em negociações para adquirir motores da Horse, garantindo assim que o mercado de combustíveis fósseis continue a prosperar, mesmo com o avanço dos veículos elétricos.
Saudi Aramco: O Interesse do Petróleo na Perpetuação da Combustão
Um dos maiores players globais do mercado de petróleo, a Saudi Aramco, está igualmente empenhada em garantir a longevidade do motor a combustão. Recentemente, a petrolífera saudita investiu €740 milhões para adquirir 10% da Horse. Em uma entrevista ao Financial Times, Yasser Mufti, vice-presidente executivo da Aramco, explicou que eliminar completamente os motores a combustão seria uma tarefa extremamente cara e que os combustíveis fósseis continuarão sendo utilizados por um longo tempo, provavelmente “para sempre”.

Embora a Aramco também esteja investindo em alternativas mais limpas, como a eletrificação e os biocombustíveis, a empresa projeta que, mesmo após 2050, mais da metade dos carros no mundo ainda estarão consumindo combustíveis fósseis. Isso reflete a perspectiva de que, por mais que as alternativas elétricas cresçam, o motor a combustão continuará a ser a principal forma de propulsão de veículos por muitos anos.
A Persistência da Combustão em Mercados Globais
A União Europeia e o Reino Unido são as únicas grandes regiões que ainda sustentam a legislação que prevê a eliminação dos motores a gasolina e diesel na próxima década, mas com exceções para os combustíveis sintéticos, por enquanto. No entanto, as pressões para manter a produção de veículos a combustão aumentam, especialmente com a diminuição dos incentivos para a compra de veículos elétricos. Isso tem levado a uma queda nas vendas de carros elétricos, enquanto as vendas de carros a combustão aumentam em alguns mercados.
Na China e nos Estados Unidos, os dois maiores mercados de veículos do mundo, políticas de eletrificação de suas frotas estão sendo implementadas, mas nenhum desses países tem uma política explícita de banir totalmente os motores a combustão. Na China, embora a venda de carros eletrificados tenha aumentado significativamente e tenha atingido cerca de um terço do mercado, os modelos movidos apenas a gasolina ainda são os mais vendidos. Isso reflete uma realidade onde, por mais que a eletrificação esteja crescendo, os motores a combustão ainda dominam o mercado.
O Marketing Elétrico e a Realidade da Combustão
Apesar do marketing agressivo em torno dos veículos elétricos, que afirma que eles são a única solução para reduzir as emissões dos meios de transporte, a realidade é bem mais complexa. Mesmo com o crescimento da eletrificação global, o motor a combustão continua sendo a tecnologia dominante nos carros vendidos em todo o mundo. Não há indícios claros de que os motores a combustão irão desaparecer em um futuro próximo, já que continuam sendo uma opção viável e acessível para muitos consumidores, especialmente nos mercados emergentes.
O Retrocesso nas Estratégias de Eletrificação
Em 2021, algumas das maiores montadoras do mundo, como Ford, GM, Volkswagen e Mercedes-Benz, anunciaram sua intenção de se converter totalmente para a produção de carros elétricos até 2035 ou 2040. No entanto, desde então, muitos desses planos foram ajustados, principalmente devido ao insucesso de seus modelos elétricos e às dificuldades no mercado de baterias.
Por exemplo, a Ford anunciou que reduziria seu investimento em uma unidade de baterias no estado de Michigan e que começaria a produzir picapes a gasolina em uma fábrica no Canadá, revertendo seu plano original de construir apenas carros elétricos nesse local. A Volkswagen também cancelou investimentos de US$ 2,2 bilhões em uma nova fábrica de carros elétricos na Alemanha, refletindo a incerteza sobre o futuro da eletrificação no setor automotivo.
A Contradição de Elon Musk
Até mesmo figuras como Elon Musk, o bilionário dono da Tesla, que é um grande defensor dos carros elétricos, parecem reconhecer as complexidades desse cenário. Musk mudou a localização de suas empresas da Califórnia para o Texas, um dos maiores produtores de petróleo nos Estados Unidos. Irônico, considerando que a penetração dos carros elétricos no Texas é mínima, com menos de 1% das vendas de carros no estado sendo elétricas. O apoio de Musk à candidatura de Trump também gerou questionamentos, já que ele apoia uma política que favorece a exploração de petróleo.
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Isso levanta a questão: Musk pode estar, de alguma forma, ajudando a financiar a perfuração de mais poços de petróleo, já que seus carros elétricos dependem da energia gerada, em grande parte, por fontes fósseis. Assim, a relação entre a indústria de petróleo e a eletrificação parece ainda mais contraditória do que muitos imaginavam.

O Fim do Petróleo Está Longe
Com tudo isso, parece claro que o fim dos motores a combustão e a substituição do petróleo por energias renováveis está longe de se concretizar. O petróleo continuará sendo uma parte fundamental da economia global, tanto na geração de energia quanto no transporte, pelo menos até que alternativas mais viáveis e acessíveis sejam encontradas para a transição energética.