Nova gasolina com 30% de etanol pode danificar seu veículo?
Entenda como a nova gasolina com 30% de etanol pode afetar carros, motos e o desempenho do motor com riscos reais e ajustes em discussão.
A partir de 1º de agosto de 2025, a gasolina vendida no Brasil terá uma nova composição. O percentual de etanol anidro, que hoje é de 27%, subirá para 30%. A mudança foi oficializada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), por meio da Resolução nº 9, publicada no fim de junho. A nova mistura foi batizada de E30 e será obrigatória em todo o território nacional.
Segundo o governo federal, o objetivo é reduzir a emissão de gases de efeito estufa, diminuir a dependência do petróleo e, teoricamente, baixar o custo do combustível. No entanto, especialistas apontam que esse possível barateamento pode não chegar ao consumidor final. Isso porque os custos e ajustes necessários poderão ser repassados pelas distribuidoras, anulando o efeito esperado de economia.
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Impactos nos motores
Com a mudança, surge uma preocupação comum entre motoristas: todos os veículos estão prontos para o E30? A resposta é mais complexa do que parece. Em entrevista com um engenheiro da indústria automotiva, ficou claro que a reação à nova gasolina varia de acordo com o tipo, a idade e o sistema de alimentação do veículo.
Nos modelos flex mais modernos, que já operam bem com uma ampla variação na mistura, o impacto deve ser mínimo. Esses veículos foram projetados para lidar com porcentagens elevadas de etanol, oferecendo adaptações automáticas na injeção, ignição e outros parâmetros.
Por outro lado, os veículos mais antigos, especialmente os fabricados antes de 1995, poderão apresentar dificuldades consideráveis. Nestes carros, que utilizam sistemas de carburação, o álcool tende a causar falhas de partida, corrosão interna e acúmulo de umidade. O etanol é higroscópico, ou seja, absorve água do ambiente, o que pode acelerar a degradação de componentes metálicos e borrachas.
Motos podem ser prejudicadas
Enquanto os carros flex lidam bem com a alteração, as motocicletas surgem como um ponto de alerta. Muitas motos, especialmente as de baixa cilindrada e mais antigas, sofrem com partidas a frio e exigem cuidados maiores. A situação preocupa fabricantes e associações do setor.
A Abraciclo, entidade que representa as montadoras de motocicletas no Brasil, já manifestou publicamente sua preocupação. Segundo a associação, há riscos de prejuízos no desempenho e na durabilidade dos motores. Apesar disso, testes conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) com 13 modelos — tanto carburados quanto com injeção eletrônica, produzidos entre 2004 e 2024 — mostraram que, embora haja dificuldades iniciais, a maioria dos modelos consegue operar com a gasolina E30 sem grandes falhas.
Ainda assim, a recomendação geral é reforçar os cuidados com a manutenção. As motocicletas devem ter seus filtros e mangueiras inspecionados com mais frequência, e o uso de aditivos específicos pode ajudar a proteger o sistema de alimentação.

Como os carros importados reagem?
Uma categoria que tende a passar quase ilesa pela mudança são os veículos importados recentes movidos exclusivamente a gasolina. De acordo com engenheiros das principais montadoras, esses modelos são projetados com margens de segurança que permitem ajustes automáticos na mistura ar-combustível.
Na prática, isso significa que o motor consegue “sentir” a nova composição da gasolina e corrigir parâmetros como tempo de ignição e volume de injeção para manter o desempenho e evitar falhas. Ainda assim, o motorista deve ficar atento ao manual do fabricante e, se necessário, consultar a concessionária para saber se há alguma recomendação específica para uso da nova E30.
Ajuste na octanagem
Paralelamente à mudança na composição da gasolina, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) foi incumbida de revisar o índice de octanagem do combustível vendido no Brasil. A proposta, em fase de consulta pública, prevê elevar a octanagem de 93 para 94.
Esse número é um indicador da resistência da gasolina à detonação precoce, algo que pode comprometer o desempenho do motor e gerar danos em longo prazo. Com uma mistura mais rica em etanol, a octanagem tende a cair, e por isso o aumento é visto como uma medida de segurança para preservar a qualidade do combustível.
Essa decisão é especialmente relevante para motores de alta performance, que exigem combustíveis com maior octanagem para funcionar corretamente. Caso a mudança seja aprovada, pode evitar problemas como “batida de pino”, vibrações e perda de potência.
Manutenção preventiva
Independentemente do tipo de veículo, a recomendação unânime entre especialistas é reforçar os cuidados com a manutenção. A nova composição da gasolina exige mais atenção de motoristas e motociclistas, especialmente durante os primeiros meses de adaptação.
A troca regular de filtros de combustível, a inspeção de mangueiras e conexões e o uso de aditivos estabilizantes são práticas que podem minimizar o impacto do E30 no sistema de alimentação. Nos carros mais antigos, também pode ser necessário reconfigurar o carburador ou adaptar o sistema de partida a frio.
Já para quem usa o veículo com menor frequência, é importante evitar deixar a gasolina no tanque por longos períodos. O etanol tende a se degradar com o tempo, gerando resíduos e facilitando a oxidação de componentes internos. Combustível “velho” com alta proporção de álcool é um dos principais causadores de falhas em partidas.
O que esperar
Ainda há muitas dúvidas no ar, mas a tendência é que a gasolina E30 seja apenas o começo de uma transição mais ampla rumo a combustíveis mais limpos. O Brasil, com sua tradição no uso do etanol, está em posição vantajosa para liderar esse movimento. Contudo, é preciso garantir que a tecnologia, a infraestrutura e o consumidor estejam prontos para essa mudança.
Enquanto isso, vale acompanhar de perto como o mercado vai se comportar. Motos, carros antigos e modelos exclusivamente a gasolina são os que exigem mais atenção. A manutenção correta e o uso de componentes adequados farão toda a diferença na adaptação ao novo combustível.
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