Tirar CNH sem autoescola pode custar mais caro do que parece

O governo federal estuda flexibilizar as regras para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), permitindo que candidatos dispensem aulas em Centros de Formação de Condutores (CFCs).

A medida foi apresentada como alternativa para reduzir o custo total, que hoje gira em torno de R$ 3 mil, podendo cair até 80% sem a obrigatoriedade.

Apesar da promessa de economia, especialistas alertam para riscos sérios à segurança viária. Segundo eles, retirar a exigência da formação formal pode representar um retrocesso, já que a aprendizagem vai muito além de manobrar um veículo.

Dados frágeis

A proposta teria como base um estudo do Ministério dos Transportes. Porém, o próprio documento afirma que não há relevância estatística suficiente para comprovar que eliminar a obrigatoriedade das aulas não afetaria os índices de acidentes.

Pessoa segurando uma CNH.
Foto: Divulgação | CNH sem autoescolas preço.

Para a Associação Brasileira das Autoescolas (ABRAUTO), essa lacuna é preocupante. Uma mudança drástica sem base científica poderia trazer impactos negativos para a segurança e para a qualidade na formação dos novos motoristas.

Custos reais

Segundo a ABRAUTO, quase metade do valor da CNH é formada por taxas obrigatórias do Detran, exames médicos e psicológicos. Esses gastos permaneceriam mesmo sem as aulas em autoescolas.

Além disso, quem optasse pelo aprendizado com familiares teria de arcar com custos de combustível, desgaste do carro e manutenção, o que poderia reduzir a suposta economia defendida pelo projeto.

Papel das autoescolas

As autoescolas oferecem estrutura voltada para a segurança, com carros de duplo comando e instrutores preparados para agir em emergências. No caso das motocicletas, o aprendizado sem supervisão adequada seria ainda mais arriscado.

A especialista em trânsito Anna Maria Prediger lembra que o CFC ensina mais que técnicas de direção. O espaço também desenvolve no aluno percepção de risco, ética no trânsito e respeito às regras — pontos que dificilmente seriam repassados de maneira consistente em um aprendizado informal.

Impacto social

Os números de acidentes no Brasil reforçam a preocupação: são mais de 30 mil mortes por ano e cerca de 50 mil pessoas que ficam com sequelas permanentes. O custo social ultrapassa R$ 50 bilhões anuais, segundo o IPEA.

Especialistas defendem que a obrigatoriedade de aulas formais contribuiu para reduzir os índices de mortes no trânsito desde a década de 1990. Mesmo com a expansão da frota de veículos, as taxas de mortalidade caíram quase pela metade no período.

Exemplos externos

O especialista David Duarte Lima destaca que países como a Espanha conseguiram reduzir a mortalidade no trânsito ao investir em formação qualificada.

Veja também: O que fazer quando a carteira de motorista está vencida?

No Brasil, a implementação do Código de Trânsito Brasileiro e dos CFCs também trouxe resultados positivos.

Para ele, o caminho não é extinguir as autoescolas, mas aprimorar seu funcionamento. Isso inclui revisão de taxas, transparência nos custos, atualização pedagógica e fiscalização mais rígida da qualidade dos cursos.

Segurança em debate

A ABRAUTO já iniciou diálogo com o governo e afirma que a proposta não partiu diretamente da Presidência. No Congresso, uma frente parlamentar se mobiliza para defender a educação formal no trânsito.

Para especialistas, o ponto central é que a discussão sobre preço da CNH é legítima, mas não pode ser usada como justificativa para enfraquecer a segurança coletiva. O desafio está em tornar a habilitação mais acessível sem colocar vidas em risco.

O caminho possível

A resposta mais defendida por quem acompanha o tema é clara: melhorar o sistema atual em vez de desmontá-lo. A educação estruturada tem papel comprovado na preservação de vidas e não deve ser tratada como gasto supérfluo.

Afinal, se a economia imediata for priorizada, quem garante que os motoristas formados terão a consciência necessária para conduzir com responsabilidade? Essa é a questão que ainda divide opiniões, mas que precisa ser respondida com base em dados e não apenas em promessas de redução de custos.

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Redator online do Agora Motor, antes mesmo de concluir o ensino médio e fazer a carteira, Gabriel já está envolvido no universo automotivo. Produz conteúdos informativos e relevantes, com foco em lançamentos, notícias e tudo que movimenta o setor. Interessado em aprender e crescer na área, acompanha de perto as tendências do mercado e busca tornar a informação acessível a todos os leitores.
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