Nissan Quebrou? A Verdade Vai Chocar Você
Durante anos, a Nissan foi vista como um dos pilares da indústria automotiva japonesa, com modelos populares como Kicks, Versa e Sentra consolidando sua presença em mercados estratégicos ao redor do mundo. No entanto, o que antes era uma história de sucesso hoje virou um cenário de alerta máximo. A montadora vive um dos momentos mais delicados de sua existência, com perdas bilionárias, reestruturações drásticas, fracasso em negociações de fusão e a ameaça real de não conseguir se manter sozinha por muito mais tempo.
No centro desse turbilhão está um prejuízo histórico. A empresa já reconheceu que, no encerramento do ano fiscal em março, registrou um rombo financeiro que surpreendeu até os analistas mais pessimistas: cerca de 5 bilhões de dólares, o equivalente a quase 30 bilhões de reais. Esse número representa não apenas uma marca negativa impressionante, mas o maior prejuízo já registrado na história da empresa.

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Um resultado muito pior do que o previsto
O choque é ainda maior quando se leva em conta que a própria Nissan, em sua última projeção oficial, estimava um prejuízo consideravelmente menor, na casa dos 80 bilhões de ienes, o que daria algo em torno de 3,2 bilhões de reais. No entanto, os resultados reais foram quase dez vezes maiores, alcançando entre 700 e 750 bilhões de ienes (algo entre 27,8 bilhões e 29,8 bilhões de reais). Trata-se de uma diferença brutal, que evidencia a profundidade da crise que a montadora enfrenta.
Esse tipo de descompasso entre previsão e realidade levanta dúvidas sobre a capacidade da empresa de avaliar com precisão seu próprio desempenho e as condições de seus ativos. O impacto, como era de se esperar, reverberou imediatamente no mercado e entre os próprios investidores, que agora encaram a Nissan com ainda mais cautela.
Impairment de ativos e o colapso da estrutura global
Segundo a empresa, a principal razão para esse rombo bilionário está nas chamadas despesas com impairment — termo usado para designar a desvalorização contábil de ativos que já não apresentam o retorno financeiro esperado. Essa manobra, apesar de técnica, reflete uma avaliação crítica da própria empresa sobre a viabilidade de algumas de suas operações e investimentos.
No total, foram registrados cerca de 500 bilhões de ienes em impairments relacionados a operações na América do Norte, América Latina, Europa e Japão. Essas regiões, que historicamente já vinham apresentando desempenho instável, foram diretamente afetadas pelas decisões contábeis mais recentes. Além disso, outros 60 bilhões de ienes foram adicionados como despesas de reestruturação, o que torna o cenário ainda mais severo.
Esses números não representam apenas ajustes contábeis, mas sim um realinhamento profundo da estrutura global da montadora. Cortes operacionais, fechamento de fábricas e adiamento de lançamentos são apenas algumas das medidas já anunciadas como parte de um plano emergencial de contenção de danos.
O relógio está correndo: modo de emergência ativado
A Nissan não esconde mais que está sob extrema pressão. Em novembro do ano passado, a empresa declarou publicamente estar em “modo de emergência”. Um executivo sênior chegou a afirmar que a montadora teria, no máximo, entre 12 e 14 meses para reverter a maré negativa. Esse prazo aproxima-se perigosamente do fim.

Entre as medidas que estão sendo colocadas em prática nesse plano de emergência, destacam-se:
- Demissão de aproximadamente 9.000 funcionários;
- Redução de 20% da capacidade de produção em todo o mundo;
- Venda de parte significativa das ações que possui na Mitsubishi;
- Atraso no lançamento de novos veículos.
Essas decisões são duras, mas refletem a necessidade urgente de estancar as perdas e garantir a sobrevivência da empresa a curto prazo.
A Renault se afasta e a aliança histórica se desfaz
Um dos maiores golpes institucionais sofridos pela Nissan nos últimos tempos foi o gradual afastamento da Renault, sua histórica parceira francesa. A aliança entre as duas montadoras foi fundamental para que a Nissan escapasse da falência em 1999. Juntas, com a entrada posterior da Mitsubishi, formaram uma das maiores alianças automotivas do mundo.
No entanto, o que era uma união sólida começou a ruir nos últimos anos. Em meio a disputas internas, desacordos estratégicos e escândalos envolvendo ex-executivos como Carlos Ghosn, a confiança entre as partes se deteriorou. Recentemente, a Renault anunciou a venda de parte de sua participação na Nissan, reduzindo sua fatia de 46% para menos de 36%. A expectativa é que esse número caia ainda mais nos próximos meses.
A saída da Renault representa mais do que uma mudança de composição acionária: trata-se do fim simbólico de uma era e da necessidade de a Nissan encontrar novos caminhos sozinha — algo que, neste momento, parece um desafio monumental.
A fusão com a Honda: uma salvação que não veio
Diante de um quadro tão preocupante, a Nissan apostava alto em uma possível fusão com outra gigante japonesa, a Honda. A proposta não era apenas financeira: envolvia o desenvolvimento conjunto de veículos elétricos, o compartilhamento de tecnologia, ganhos de escala e, principalmente, a chance de enfrentar de forma mais competitiva o avanço agressivo das montadoras chinesas no mercado global.
Estima-se que o acordo envolvia cerca de 350 bilhões de reais em investimentos, além da possibilidade de a Honda assumir parte das ações que a Renault vinha se desfazendo. Para muitos, esse era o movimento mais lógico e promissor para a sobrevivência da Nissan.
No entanto, as negociações naufragaram em fevereiro. Fontes internas revelaram que a Nissan entrou nas conversas acreditando em uma aliança entre iguais, mas se frustrou ao perceber que a Honda pretendia transformá-la em uma subsidiária. A exigência de controle total, mesmo diante da crise, foi considerada inaceitável pela Nissan, que se retirou da mesa de negociações.
O plano B: Foxconn entra em cena
Com a fusão com a Honda descartada e o apoio da Renault cada vez mais distante, a Nissan começa a buscar alternativas. Uma das possibilidades que surgiu recentemente é uma aliança com a gigante taiwanesa de tecnologia Foxconn — conhecida por fabricar produtos para empresas como Apple e Microsoft.
A Foxconn demonstrou interesse em formar uma parceria estratégica com a montadora japonesa, mas deixou claro que prefere uma colaboração do que uma aquisição direta. A empresa está de olho na infraestrutura e no know-how automotivo da Nissan, especialmente no desenvolvimento de veículos elétricos, área que pretende expandir fortemente nos próximos anos.
Ainda não há confirmação de que o acordo vá se concretizar, mas essa pode ser a última grande oportunidade da Nissan de garantir capital, inovação e sobrevida no mercado automotivo global.

E o futuro?
Mesmo com todos os reveses, a Nissan afirma que continuará trabalhando em colaboração com a Mitsubishi e a própria Honda no desenvolvimento de tecnologias para eletrificação e software automotivo. A empresa acredita que essa cooperação pode ser suficiente para manter alguma competitividade nos próximos anos, especialmente diante do avanço de concorrentes chineses.
No entanto, analistas são céticos quanto à capacidade da montadora de se recuperar sozinha. Sem um novo parceiro forte, e com perdas financeiras tão expressivas, a Nissan pode enfrentar um desfecho que nenhuma fabricante deseja: ser absorvida, fatiada ou desaparecer do mercado como protagonista.
O cenário é crítico. A Nissan ainda é uma marca valiosa, com reputação sólida em muitos mercados, mas que sofre agora com as consequências de anos de decisões controversas, dificuldades internas e pressões externas. O tempo está correndo — e o futuro da montadora nunca foi tão incerto.
