“Cybertruck Brasileira?” Conheça o Formigão: o carro nacional que fez história antes mesmo da Tesla existir
Antes de Elon Musk prometer ao mundo um caminhão futurista com carroceria de aço inoxidável e potência elétrica, o Brasil já mostrava que também sabia inovar. E não foi ontem. Muito antes da Tesla lançar sua badalada Cybertruck, o engenheiro brasileiro Paulo Renha já idealizava um veículo diferente de tudo que se via nas ruas – robusto, funcional e com visual que chamava atenção.
Pouco conhecido por muitos, o Formigão é um verdadeiro tesouro da indústria automotiva nacional. Ele não apenas existiu, como também foi produzido em série e deixou um legado de engenhosidade e ousadia. Esqueça por um momento os vidros à prova de balas e os motores elétricos: o Formigão é uma aula de criatividade brasileira com muito menos recursos – e décadas de antecedência.

Se você acha que veículos com design inusitado, estrutura leve e função utilitária são uma invenção recente, prepare-se para mudar de ideia.
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O nascimento de uma ideia inusitada
Tudo começou nos anos 1970, quando Paulo Renha, um jovem estudante de engenharia do interior de São Paulo, sofreu um acidente de moto. O ocorrido foi o gatilho para uma inquietação: como criar um veículo mais seguro do que uma moto, mas que mantivesse a praticidade e leveza?
A resposta veio em forma de um triciclo. Sim, um misto de moto com carro, com estrutura derivada do Volkswagen Fusca 1300. Inicialmente, a ideia era fazer apenas dois modelos, um para ele e outro para um amigo que o ajudava na empreitada. Mas a ideia era boa demais para morrer ali.
O triciclo chamou tanta atenção que, após sua formatura, Renha foi trabalhar na fábrica Norma Escapamentos. Lá, o proprietário, Victor Sztern, viu potencial no projeto e propôs algo ousado: produzir o triciclo em série.
Uma nova fase: o nascimento do Formigão
Mesmo com as dificuldades de homologação – o Brasil da época não era exatamente conhecido por facilitar a vida de inventores – a produção começou em 1975. Mas Paulo Renha tinha planos maiores.
Ele queria mais que um triciclo estiloso. Sonhava com um veículo multiuso, voltado para o trabalho e o lazer, capaz de transportar cargas com eficiência e resistir ao uso diário. Assim nasceu o Formigão, um veículo único, projetado do zero por quem entendia não só de mecânica, mas também das necessidades do brasileiro comum.
Estrutura leve, conceito pesado
Diferente do design arrojado e quase alienígena da Tesla Cybertruck, o Formigão era simples e prático. Sua estrutura era feita de tubos metálicos soldados, revestida com painéis de fibra de vidro e metal. Essa escolha de materiais, além de baratear o custo, tornava o carro leve – apenas 756 quilos – e extremamente resistente.
Mais do que isso: ele podia transportar até 650 quilos, número impressionante para um veículo do porte dele. Isso o tornava ideal para pequenos empresários, comerciantes e profissionais autônomos. Era, de certa forma, uma picape urbana antes das picapes urbanas existirem.

Versatilidade em todas as formas
O que também chamava a atenção no Formigão era sua versatilidade. A carroceria podia ser aberta, como uma caçamba comum, ou fechada, no estilo furgão. Havia ainda versões adaptadas para ambulância, algo inovador para um veículo alternativo produzido em pequena escala.
Seu visual peculiar e prático fazia dele um híbrido interessante entre utilitário e carro de passeio. Não era bonito segundo os padrões tradicionais, mas era funcional. E isso bastava para muitos.
Mecânica conhecida, manutenção fácil
Outro trunfo do Formigão era a mecânica baseada em componentes da Volkswagen, mais especificamente do Fusca e da Brasília. Isso significava que encontrar peças de reposição era fácil e barato – um ponto fundamental em um país onde a manutenção acessível é decisiva na hora da compra.
O motor era traseiro, refrigerado a ar. Mas nem tudo foi simples: Paulo Renha enfrentou dificuldades técnicas, especialmente com o sistema de ventilação. A ventoinha em pé, por exemplo, exigiu adaptações na caçamba, o que acabou comprometendo um pouco a capacidade de carga.
Mesmo com esses desafios, o Formigão se mostrou um veículo valente e confiável.
Preço: um obstáculo para sua popularização
E por que o Formigão não virou um sucesso nacional? A resposta está, em parte, no preço.
Na época, sua versão de luxo custava Cr$ 135.578, o que equivalia a quase o dobro do preço de um Fusca 1300 zero km. Para se ter uma ideia, a Ford F-100, uma caminhonete tradicional da época, custava apenas um pouco mais: Cr$ 136.412.
Com tantas opções mais acessíveis e conhecidas no mercado, o Formigão acabou se tornando um produto de nicho. Ele era bom, mas custava caro demais para a maioria dos consumidores brasileiros, que ainda enxergavam com desconfiança qualquer veículo fora do padrão tradicional.
O Formigão e a Cybertruck: dois mundos distantes e semelhantes
Apesar das diferenças gritantes entre o Formigão e a Cybertruck da Tesla, há algo em comum entre os dois projetos: a ousadia. Ambos romperam padrões, apostaram em estruturas incomuns e desafiaram os formatos tradicionais de veículos utilitários.
A Cybertruck aposta na tecnologia elétrica, na resistência de sua carroceria em aço inoxidável e em um design que parece saído de um filme de ficção científica. Já o Formigão focava na praticidade, leveza, baixo custo de produção e funcionalidade urbana.
Enquanto Elon Musk precisava de bilhões de dólares e uma legião de engenheiros, Paulo Renha fazia história com criatividade, vontade e conhecimento técnico local. E isso é algo digno de reconhecimento.
Um legado que inspira
O Formigão pode não ter sido um sucesso de vendas, mas seu legado continua vivo entre colecionadores, apaixonados por carros e curiosos pela história automotiva nacional.
Ele mostra que, mesmo em um país de poucos incentivos à inovação, há espaço para ideias autênticas. Renha provou que não é preciso uma grande montadora para criar algo revolucionário – só é preciso visão, coragem e um pouco de teimosia.
O Formigão é a cara do Brasil: simples, resistente e cheio de personalidade. Uma verdadeira raridade que antecipa, de forma surpreendente, ideias que hoje estão em alta no mundo todo.
O futuro já teve sotaque brasileiro
Muito antes de Musk pensar em revolucionar o mercado de caminhonetes com uma picape elétrica futurista, o Brasil já havia tentado inovar com o que tinha. O Formigão pode ter sido ofuscado por outros modelos mais baratos ou convencionais, mas sua proposta era visionária.

O que ele representa vai muito além de números de venda ou fama internacional. Ele é prova de que o futuro também pode ser criado no passado — e com sotaque brasileiro.
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